OS BATISTAS E SUAS ORIGENS CALVINISTAS
Por Wilson Porte Jr.
Definir a origem dos Batistas não é algo tão consensual como deveria. Perspectivas diferentes, infundadas historicamente, porém, cridas e ensinadas em muitas instituições, têm dividido os historiadores quanto à real origem desta tradição cristã. Há, pelo menos, três perspectivas quanto à origem dos Batistas: o Sucessionismo Batista (ou, Sucessionismo Orgânico Estrito), o Anabatismo, e o Movimento Puritano-Separatista Inglês.
TRÊS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS
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Rastro de Sangue: sem provas históricas bem fundamentadas, é tido como lenda para os historiadores da igreja. |
Os que sustentam a segunda perspectiva, a de que os Batistas vieram dos Anabatistas, argumentam que, ao tempo da Reforma, alguns que saíram da Igreja Romana mas não se identificaram com os Reformadores Magistrais (Lutero, Zwínglio, e Calvino), formaram um grupo à parte, buscando uma reforma “radical”. Estes, por sua posição de que o batismo devesse ser administrado apenas aos regenerados, ficaram conhecidos como Anabatistas (século dezesseis). É destes que, segundo os defensores desta visão, surgem os Batistas, também no século dezesseis.
A terceira e principal perspectiva, a qual seguirei em minha argumentação posterior, é que os Batistas surgiram dos Movimentos Puritano e Separatista na Inglaterra, durante o século dezessete. Esta é a posição defendida pelos principais historiadores batistas da atualidade: Michael A. G. Haykin e Thomas J. Nettles. Além destes, Champlin Burrage, W. T. Whitley, J. H. Shakespeare e B. R. White, historiadores batistas dos principais seminários nos Estados Unidos e na Europa, sustentam esta visão.
BATISTAS GERAIS E PARTICULARES
Quando pensamos na origem dos Batistas no século dezessete, como fruto dos movimentos separatista e puritano na Inglaterra, precisamos ter em mente dois grupos: os Batistas Gerais (Armenianas) e os Batistas Particulares. Estes dois grupos, em princípio, se dividiram por conta da doutrina da Expiação. Os “Gerais”, crendo que na Expiação Ilimitada e os “Particulares”, ou, “Calvinistas”, na Expiação Limitada, ou ainda, Particular, dos Eleitos.
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John Smith |
É somente em 1609 que Smith “dá um passo significativo em seu pensamento, aceitando o batismo do crente”. Isto trouxe certo embaraço entre os Separatistas, à medida que Smith passa a pregar que o batismo da Igreja Anglicana é errado por ser ela uma Igreja errada. Ele disserta sobre isso em seu tratado intitulado The Character of the Beast (O Caráter da Besta), publicado em 1609.
Inconstante em sua teologia, Smith entende que, uma vez que seu batismo na Igreja da Inglaterra tenha sido falso, que ele deveria ser novamente batizado. Ele o fez, tendo, logo em seguida, batizado todos os membros de sua igreja. Além das críticas dos separatistas, Smith e seu grupo foi curiosamente criticado por um grupo holandês chamado Waterlanders, ligado aos Menonitas.
Os Waterlanders criticaram Smith pois criam que ele e toda sua congregação poderiam ter sido rebatizados por eles, e que Smith não deveria ter se autobatizado, além de rebatizar todos em sua igreja. Com isto, Smith se aproximou dos Waterlanders para compreender sua teologia. Ele e toda sua congregação foram para a Holanda tendo como um dos objetivos se aproximar dos Waterlanders. Nisto, Smith tornou-se Arminiano, abandonando, em particular, a crença de que Cristo morreu apenas pelos eleitos.
Depois de um tempo junto aos Waterlanders, Smith entendeu que seu autobatismo foi invalido, bem como o rebatismo de toda a sua congregação. Com um grupo de quarenta e duas pessoas, Smith submeteu-se novamente ao batismo dos Waterlanders, sendo, posteriormente, admitido à este grupo. Nisto, alguns que não concordaram com a inconstância e inconsistência de Smith, retornaram à Inglaterra em 1612 conduzidos por Thomas Helwys (1575-c.1616). Neste ano, Smith morre e sua congregação acaba por se unir à tradição anabatista holandesa.
A congregação que voltou com Helwys retinha o Arminianismo e, por isso, tornaram-se conhecidos na Inglaterra como Batistas Gerais (por causa de sua posição quanto à Expiação Geral, e não Limitada ou Particular). Assim que voltaram para a Inglaterra, Helwys foi preso por seu não-conformismo à Igreja Anglicana. Helwys morreu entre 1615 e 1616 e, sua pequena congregação, com cerca de dez membros, sobreviveu ao aprisionamento e morte de seu líder. Em 1626, Haykin afirma que haviam congregações Batistas Gerais em Londres, Coventry, Lincoln, Salisbury, e Tiverton, com aproximadamente cento e cinquenta membros.
De acordo com Haykin, os Batistas Gerais foram praticamente extintos no final do século dezoito. Sua relutância em construir edifícios eclesiásticos e sua aplicação rigorosa de uma política de endogamia (casamento permitido apenas entre os membros da própria igreja), são, para Haykin, duas de tantas razões que levaram os Batistas Gerais ao seu fim.
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Culto na Igreja Jacob-Lathrop-Jessey (representação da época) |
É em meio a tudo isto que surgem os Batista Calvinistas. No ano de 1616, sob o pastoreio de Henry Jacob, uma igreja surge como a primeira igreja Batista Calvinista da história. É conhecida como Igreja Jacob-Lathrop-Jessey. Estes são os nomes dos três primeiros pastores desta igreja. Henry Jacob a pastoreou de 1616 a 1622, John Lathrop de 1624 a 1634, e Henry Jessey de 1637 a 1639.
No princípio, Henry Jacob (1563-1624) e sua congregação se destacaram por não cortarem relações com outros grupos Puritanos que permaneciam dentro da Igreja da Inglaterra. Em 1622, Jacob deixou a Inglaterra e mudou-se para a Virgínia, deixando o ministério daquela igreja. Dois anos depois, veio a morrer no Novo Mundo. Em 1624, Lathrop sucedeu Jacob. Quando, no início da década de 1630, o Arcebispo William Laud buscou conduzir todas as igrejas na Inglaterra de volta ao Anglicanismo, Lathrop decide tomar o mesmo rumo de Jacob, e parte para a Novo Inglaterra em 1634.
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Rev. John Lathrop |
É no ministério de Jessey que esta igreja afirmará, em 1638, sua adoção do credobatismo. Em 1641, eles afirmam o batismo por imersão (até então, o batismo era administrado por aspersão ou afusão em todas as igrejas batistas), e, em 1644, produz uma Confissão de Fé ao lado de outras igrejas Batistas Calvinistas.
Além desta igreja, outra se destaca no início das igrejas Batistas Calvinistas: a Igreja pastoreada por John Spilsbury. Spilsbury, segundo Haykin, provavelmente foi membro da Igreja JLJ (como também era chamada a Igreja Jacob-Lathrop-Jessey). A igreja pastoreada por ele “foi a primeira a abraçar definitivamente a causa Batista Calvinista”.

Durante as guerras civis, os Batistas Calvinistas começaram a crescer e se espalhar por várias cidades da Inglaterra. Em 1644, haviam sete congregações em Londres e quarenta e sete em toda a nação. Muitos deles estavam no exército de Cromwell, alguns em alta posição. Por esta razão, Oliver Cromwell não via os Batistas como um povo com quem devesse se preocupar. Após o período conhecido como “A Restauração”, quando a dinastia Stuart voltou a reinar na Inglaterra, os Batistas voltaram a ser perseguidos com prisões, torturas e multas. De acordo com Philip Schaff, os Batistas sofreram mais do que qualquer outro grupo não-conformista, “exceto os Quakers”.
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A Confissão produzida no século XVII, cuja 1ª edição (1644), antecedeu em 2 anos a Confissão de Fé de Westminster. Para comprá-la, clique aqui. |
Foi somente em 1633 que eles começaram a organizar congregações separatistas, mas eram punidos sempre que descobertos. Muitos fugiram para a Holanda e alguns para a América. Algumas de suas primeiras publicações estavam relacionadas à defesa da liberdade de consciência.
Hanserd Knollys (1599–1691), Benjamin Keach (1640–1704), e John Bunyan (1628–1688) estiveram entre os principais teólogos batistas do século dezessete a passar bastante tempo na prisão. Foi só após o Ato de Tolerância (1689) que a perseguição cessou, permitindo aos Batistas a construção de capelas e sua expansão por toda a nação. É a partir desse ano que os Batistas passam a ser um dos principais ramos do Separatismo inglês
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